sexta-feira, 10 de julho de 2009



Vamos flertar com o blog "Xis-Xis", de Isis Diniz...

"NÃO SE NASCE MULHER: TORNA-SE"


Domingo frio desses fui ver o monólogo atuado pela Fernanda Montenegro “Viver sem tempos mortos”, patrocinado pela Mapfre Seguros. Além de ótima companhia comigo, observar a atriz interpretar Simone de Beauvoir a poucos metros de distância é um presente para contar aos netos.

Antes da peça começar, Fernanda Montenegro fixou o olhar na platéia por minuto. Tão brilhante, penetrante. Ela parecia ouvir os inquietos pensamentos. Abaixei a cabeça e abri um sorriso envergonhado. Será que alcançou meus sentimentos mais profundos?

Se não aquele momento, até o final do monólogo, com certeza. A peça, com cerca de uma hora, se passa em um cenário suficiente. Sobre o chão de tábua, uma cadeira de madeira. Em cima, uma luminária preta gera luz quadrada.

A atriz, de cabelos presos, usa pouca maquiagem que reforça os olhos – parênteses: que cútis. Veste uma camisa branca, calça e sapatos pretos. Sentada na cadeira, semelhante a que Simone de Beauvoir pediu para ficar ao lado da sepultura de Jean-Paul Sartre, encarna a filósofa francesa.

Uma mulher escuta de outra – grande – mulher uma história de uma – grande – mulher. Eu já conhecia um pouco sobre a vida e obra de Simone – e de Fernanda -, mas o monólogo fez entender muito melhor essas duas representantes do sexo feminino.

Esses dias, como Freud indagou, me perguntaram no Twitter: “O que as mulheres querem?” A francesa pode não ter respondido diretamente à questão, mas por meio da peça encontrei em mim uma filosofia para a resposta.

A “personagem” Simone (1908-1986) era de uma família com boas condições financeiras. Estudou. No século passado (!), lutou pela liberdade de expressão. Principalmente, defendeu a liberdade das mulheres. Ela optou por não ter filhos, manteve relacionamento “aberto” com o colega e amor Jean-Paul Sartre, se dedicou à escrita e às aulas.

Uma mulher bonita – vide foto ao lado tirada pelo americano Art Shay, em 1952 – e inteligente que discorreu sobre a existência. Procurou viver suas vontades e, ao mesmo tempo, entender a natureza humana. Uma resposta definitiva parece – até para ela – impossível. Mas essa reflexão é essencial para nós próprios nos entendermos.

Após a peça, saí ainda com mais dúvidas sobre a vida, as pessoas e o que desejamos. Paradoxalmente, também me senti mais leve. Encontrei uma Simone e um Fernanda dentro de mim. Uma mulher que sabe o que não quer. Hoje, na dúvida de qual ação tomar, a francesa é uma inspiração. “Viver é envelhecer, nada mais”, disse.
(reprodução)

7 comentários:

regi nat rock disse...

"viver é envelhecer, nada mais".
Uma afirmação sem sexo, que serve para tudo e todos.
O diferencial, é ter tido a oportunidade de deixar algo de bom, nem que seja, apenas, para UMA pessoa.
Se assim for, seu legado ficou.

A lindinha Isis, escreve com profundidade.

SALOMA disse...

Ela é boa no texto e uma pessoa lindíssima! Sou suspeito, porque já sou seu admirador.

RPMcarioca disse...

Bom texto, pena que a peça já se foi, mas bom texto. Essa diversifiquidade do blog é que me fascina. Testos leves; assuntos velozes e as lindinhas dando a graça por aqui! Muito bom...

Primo disse...

quanta profundidade....

Anônimo disse...

Tive a oportunidade de vê-las em épocas distintas: em 67, cursando História na universidade de Bruxelas, a musa Beauvoir nos deu noções de resistência à direita-profissional. Em 2007 Fernanda, a musa brazuca, nos deu num teatro carioca a nítida noção q essa merda acima (a direita-profissional) vai phoder o individualismo e a criatividade em nome da globalização. Diziam a mesma coisa, sentiam o mesmo desprêzo.
Saudações belgo-monarquistas
carlo paolucci

M disse...

Nosso caro amigo Primo, o arqueólogo sugere ter bem entendido a motivação do post...

Jackie disse...

Primo e M, comportem-se !!

Não é sobre essa profundidade que estamos falando, rsrsrsrsrsrs...

Vocês dois são uns...

INSENSÍVEISSSS !!!