Como Maio é o mês da Indy 500, vamos abordar algumas das idéias mais interessantes, pra não dizer estapafúrdias, que passaram por lá. Uma delas foi o sonho de Bill Lear, o criador do rádio para automóvel (porque ele desafiou o professor de eletrônica e criou uma bobina minúscula, permitindo a instalação do radio no painel Motorola, lembram?).
Billy Lear e uma das seçoes da Caldeira Mono-Tubo de Aço Inoxidavel do Vapordyne, com alta tecnologia, estes tubos foram testados até 8000 PSI. Durante os testes forçou-se a explosão da caldeira. Projetada para isso, não ocorreu nenhum acidente.
Ele gostava de desafios, e registrou mais de 130 patentes, incluindo o precursor do GPS (compasso elétrico) o piloto automático e sistemas de pouso par aviões, o cartucho de oito pistas e o Lear Jet. Dinheiro sobrava e faltava, mas ele não fugia dos desafios. Uma mente permanentemente em velocidade warp, que se tornou desocupada e rica após vender a Lear Jet, e que quase cometeu suicido (a esposa o pegou na porta de casa), um rebelde em busca de uma causa, que se incomodava com os temas contemporâneos, logo parte para salvar o mundo, e resolve que o grande problema era a poluição, que ele via como o teto negro de nuvens sobre Los ANGELES.
Ele encontrou Ken Wallis, engenheiro inglês que emigrou para a Califórnia em 1.963, depois de ter alguma participação no automobilismo, e que convenceu Andy Granatelli a construir o carro-turbina STP Special, que quase venceu as
O carro concebido para correr era o Vapordyne, com tração integral (para distribuir o torque) e a caldeira no lado esquerdo do piloto, por questões de massa e CG (com o sério risco do piloto tornar-se uma canja em caso de acidente). Os engenheiros que trabalhavam no projeto, alguns deles vindos da indústria aeronáutica, achavam que Wallis beirava a fraude, mas admiravam o seu esforço em avançar sempre nas questões técnicas.
Mocap do motor Vapordyne, para construção do Banco de Provas com alta tecnologia, aqui consumiu-se 10 milhões de dolares em pesquisas.
O vapor superaquecido entrava no motor, ou vaso de expansão em língua de gases, um
Vapordyne Deltic motor a vapor com alta tecnologia, seis cilindros, tres girabrequins, doze pistoes contra postos (dois em cada cilindro)...
O carro tinha brilhantes soluções técnicas para problemas que nunca deveriam ter acontecido, e problema era o que não faltava. O vapor vazava nas juntas do motor, os radiadores eram insuficientes, a válvula de distribuição de vapor entre os cilindros travava por falta de lubrificação, as tolerâncias eram insuficientes pela inexistência de centrais de usinagens CNC, e os materiais modernos como compostos de cerâmica eram desconhecidos, os pistões de aço inox e as camisas de ferro fundido, com dilatações desconhecidas. As tais tolerâncias novamente. Dos prometidos 1.000 HP, talvez pouco mais de 100 existiram, mas o torque era imenso, torcendo os eixos utilizados no dinamômetro como spaghetti cozido. E olhe que eram cardãs de caminhões!
Detalhe do grupo motopropulsor do Vapordyne, podemos ver o diferencial traseiro (Tração nas 4 rodas), os primeiros discos de freio ventilados do mundo, e o motor em corte.
No campo desportivo as coisas não iam melhores também, porque a USAC e os comissários de Indy queriam ver o carro até março para elaborarem fórmulas de equivalência, e havia o temor de alienar os outros motores de combustão interna.
Bloco do motor Vapordyne-Deltic (Motor a Vapor Delta), a direita o Eng; Ken Wallis projetista do motor, e a esquerda William Lear.
E o pior, Lear começou a desconfiar de Wallis e suas promessas, principalmente por um detalhe da operação, ou seja, a empresa era de Lear, mas o trabalho de engenharia era contratado da Wallis Engineering Co.
Um carro foi terminado para ser apresentado no salão de New York em Abril, com a promessa de correr em 1.970, um ano após o prometido.
Jackie Stewart foi contratado para pilotá-lo, mas as quatro grandes, principalmente a Ford (que tinha algumas patentes com vapor também) jogaram duro, pressionaram Lear, e este acabou desistindo, depois de dois ataques do coração. Em junho estava tudo terminado, assim como US$ 17milhões da fortuna de Lear.
Consta que a única pessoa feliz era Wallis. Rico e livre. O seu temor é que podia ter dado certo.
(reprodução/ Motorsport-maio)
3 comentários:
Que puta materia, essa não conhecia ao vivo. Já tinha escutado falar algo sobre a façanha do britânico, mas ao vivo com fotos e charge ficou show. Parabéns ao Victor e ao síndico por mais uma!
Tenho que reler um bocado de vezes para captar em sua plenitude, todo o conceito.
Falamos supercialmente hj, depois da corrida a respeito de vapor, mas tava todo mundo com pressa de ir embora e o assunto adormeceu.
Mas vou voltar nele.
Puta matéria, Vitão! Daquelas que dá prazer de ler, apesar do excesso de dados técnicos. Mas, fica o testemuho que soluções existem, e que não são implementadas por interesses econômicos.
Lembro de uma matéria da 4Rodas faz muito tempo sobre um motor que foi testado no Brasil que queimava qualquer coisa, de gasolina a óleo de soja não refinado, e que tinha sido desenvolvido para aplicações estacionárias de geração de energia nos rincões. Os produtores poderiam ter suas máquinas movidas a óleo vegetal de sua própria lavra, literalmente.
Nunca mais se ouviu falar do tal motor aqui no Brasil...
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